Água e Memória do Eterno Nº5

Nº5 L'eau Eau de Toilette

E foram tanto os comentários positivos em relação à resenha do Bel Respiro que, aqui estou eu novamente com mais uma resenha para tentar atender o pedido dos amigos.

Nº5 L'eau foi lançado no finalzinho de 2016, como um flanker do tradicional Nº5. A família, que já conta com uma versão mais "aguada" do original, o Eau Premiére, se tornou ainda mais sutil, na intenção de ir em busca de um mercado mais novo. Quem assina essa fragrância é Olivier Polge, filho do inigualável Jacques Polge, responsável pela versão eau premiére e pelas diversas reformulações do Nº5, originalmente criado por Ernest Beaux.

Sabe quando você é criança e brinca de espremer a casca no dorso da mão? Se não sabe, eu recomendo fazer. Se tiver medo das manchas de sol que podem causar, você pode ter a mesma experiência com esse perfume:
L'eau abre com uma nota cítrica, que pode-se chamar de explosão, pois mistura o limão siciliano, o limão tahiti, bergamota, laranja e tangerina. Ele cria uma saída tão ácida que fica difícil você dizer a que fruta ela realmente remete. 
E ela me remete a essa brincadeira não só pelo cheiro de ácido cítrico que sai, mas também pelo spray contínuo que l'eau tem: tudo nele é macio e suave. Cada apertão na casca da laranja, era um sprayzinho suave do suco da casca. Depois disso, eu passava horas com o nariz grudadinho na mão, inebriada pelo cheiro.

Depois dessa saída, que se dissipa e coisa de minutos, temos os aldeídos, de uma maneira muito contida. É como se você tivesse sentido o Nº5 quando era criança e nunca mais tivesse sentido. Você experimenta o L'eau e vem uma memória, da mesa de maquiagem daquela tia que usava o Nº5. Ele não é sobre que perfume você está usando, mas sobre a memória que ele te trás.

Ele não é a grama, é o cheiro de terra úmida às 5 da manhã. 
Ele não é a xícara de café, é o cheiro do café sendo passado na hora que você chega em casa.
É o peque detalhe que faz as lembranças tão significativas.

L'eau é um perfume que eu uso tanto no frio quanto no calor. O meu perfume favorito para os dias mais frescos de verão, ou para o inverno. Em dias muito quentes, ele desanda. Apesar disso, facilmente eu o transformaria no meu perfume assinatura. É um perfume sutil, daqueles que precisam chegar perto de você para senti-lo. E ele faz as pessoas quererem chegar próximo a você para isso: o talco remanescente do Nº5 fica impregnado no meu cabelo e roupa. Ele é daqueles perfumes que a pessoa não sabe se é o seu perfume, o seu sabonete, o seu hidratante, ou o seu cheiro natural. E ela precisa de tempo até entender quem é você.

Em um mundo onde tudo é "para ontem", e que os perfumes precisam chegar primeiro para anunciar a sua chegada, L'eau mostra que ainda é imperativo que haja tempo (e paciência) para apreciarmos as pequenas coisas, as mais sutis, as mais escondidas.

Não por acaso é o meu perfume favorito da Chanel.