É provável que você já tenha visto, no fim do dia, uma padaria recolhendo pães que não foram vendidos ou um supermercado substituindo bandejas de frutas ainda boas para consumo. O destino desses alimentos, na maioria das vezes, é o mesmo: o lixo. O que parece apenas rotina comercial compõe um retrato global alarmante.
Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP), 1 bilhão de toneladas de alimentos são desperdiçadas todos os anos, quase um quinto de tudo o que produzimos. O problema, antes tratado como uma questão de logística ou de gestão, hoje é reconhecido como um dos principais desafios ambientais e sociais do século.
O problema:
A decomposição de alimentos descartados em aterros produz metano, um gás de efeito estufa com potencial de aquecimento global até 80 vezes maior que o CO₂. Além disso, toda a energia, água e terra usadas para cultivar, transportar e refrigerar esses alimentos também são perdidas. A FAO estima que 28% das terras agrícolas do mundo são dedicadas à produção de comida que nunca será consumida.
Enquanto toneladas de comida são jogadas fora, mais de 700 milhões de pessoas passam fome e 2 bilhões não têm acesso regular a uma alimentação adequada. Esse contraste torna o desperdício um problema ético e social.
Não falta comida no mundo: falta eficiência, acesso e justiça na distribuição.
O impacto financeiro também é expressivo: o desperdício de alimentos custa mais de US$ 1 trilhão por ano à economia global.
Empresas perdem produtos, governos gastam mais com gestão de resíduos e consumidores pagam mais caro devido às ineficiências da cadeia.
Iniciativas para resolver esse problema passam a ganhar força através do desenvolvimento de aplicativos como o que vamos conhecer hoje.
A iniciativa:
Em 2015, na capital da Dinamarca, Copenhague, Thomas Bjørn Momsen, Stian Olesen, Klaus Bagge Pedersen, Adam Sigbrand e Brian Christensen, um grupo de jovens empreendedores se uniu movido por uma pergunta simples: por que tanta comida boa vai para o lixo ao fim do dia, em restaurantes, padarias e buffets, se gente poderia consumi-la?
Eles criaram uma solução que combinava tecnologia, mobilização e sustentabilidade: o aplicativo Too Good To Go, lançado no país em 2016. A ideia era simples e poderosa: plataformas de restaurantes, padarias, cafés e supermercados poderiam anunciar seus excedentes (alimentos preparados ou à venda que não haviam sido vendidos) a preços reduzidos, no fim do dia. Usuários do app compravam essas Surprise Bags e iam buscá-las no horário combinado.
Como funciona:
- Marketplace de desperdício alimentar: O app conecta diretamente estabelecimentos com excedente e consumidores interessados, reduzindo o desperdício e oferecendo comida mais barata.
- Surprise Bags e Parcels: A Surprise Bag média pesa cerca de 1 kg — ou o equivalente a uma refeição. Em 2023, introduziram as Parcels: pacotes maiores vindos diretamente de parceiros industriais que possuem, em média, 5,8 vezes o peso de uma Surprise Bag.
- Impacto medido: Para cada quilo de comida salvo, a empresa estima uma economia média de 2,7 kg de CO₂ equivalente, além de evitar uso extra de terra e água.
- Escala global com raízes locais: Embora tenha se expandido, a iniciativa segue mobilizando estabelecimentos e usuários por todo o país e além.
O modelo do Too Good To Go não é apenas técnico: ele transforma resíduos em oportunidade. Pessoas que talvez não tenham orçamento para refeições mais caras podem acessar comida com preço reduzido. Estabelecimentos diminuem desperdício e custos de descarte. Ambientalistas e sociedade ganham com menor pressão sobre os recursos naturais e menos emissões.
Além disso, ao resgatar comida boa que seria descartada, a iniciativa questiona hábitos e cultura de consumo, convidando as pessoas a repensarem o valor do alimento, da produção e do consumo. Isso gera maior consciência coletiva, estimulando uma economia mais circular e solidária.
Desde o início de suas atividades, o Too Good To Go já salvou dezenas de milhões de refeições. Só em 2022, foram quase 79 milhões de refeições evitadas de irem para o lixo.
Em 2023, a escala global da plataforma resultou em mais de 121 milhões de refeições salvas e a redução deda mais de 328 mil toneladas de CO₂ equivalente.
Com as parcels, em 2023 foram entregues quase 700 mil unidades, o que equivale a cerca de 4 milhões de refeições que não foram para o lixo.
Esse impacto ambiental também se traduz em preservação de terra e água, além da redução da pegada de carbono.
Conheça outras iniciativas que se assemelham à Too Good To Go
Vocês podem conhecer mais sobre essa iniciativa acessando:
Site da Too Good To GO | Facecook da Too Good To Go | Instagram da Too Good To Go
Esse projeto atende os seguinte ODS:
Sugestão de leitura:
Lista de links
Relatório do Índice de Desperdício de Alimentos 2024
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