Liter of Light: Como simples ideias, podem se tornar grandes mudanças

Eu quero que você imagine uma coisa. Uma casa pequena no meio de uma região seca. A casa é simples, paredes de tijolo, com janelas pequenas. As telhas de cerâmica u de eternite, muito mais para cobrir o teto de e proteger as pessoas que moram ali. Não há nenhuma lâmpada no teto. A iluminação ainda é feita lampiões. Sim, essa realidade ainda existe em muitos lugares dentro e fora do Brasil. Em comunidades sem acesso confiável à eletricidade, uma simples garrafa PET no teto pode significar mais que claridade: é estudo, segurança e economia. Como transformar um objeto descartado em uma solução real para a vida cotidiana?

O problema:

Em 2023, aproximadamente 666 milhões de pessoas no mundo ainda viviam sem acesso básico à eletricidade. Isso significa que, mesmo no século XXI, uma fatia significativa da população globalcontinua sem algo que para grande parte da população parece essencial: luz confiável dentro de casa. E a maior parte delas está localizada em áreas rurais, periferias ou comunidades vulneráveis. Isso sem contar a população vítima de grandes desastres ambientais, como tsunamis, inundações, furações, entre tantos outros que têm se tornado cada vez mais comuns.

Para essas famílias, a ausência de eletricidade vai muito além do desconforto: afeta educação, saúde, segurança e oportunidade. Crianças ficam impossibilitadas de estudar à noite, casas permanecem às escuras após o pôr do sol, e tarefas simples tornam-se inviáveis. Além disso, muitas pessoas são forçadas a usar lamparinas a querosene, velas ou fogueiras, alternativas antigas, e que podem ser responsáveis por incêndios ou doenças respiratórias.

A desigualdade no acesso à energia também aprofunda as diferenças socioeconômicas. Regiões com maior carência tendem a coincidir com zonas rurais, periferias de cidades ou áreas geográficas historicamente marginalizadas, que sofrem simultaneamente com pobreza, infraestrutura precária e menor presença estatal. Isso perpetua ciclos de vulnerabilidade: sem energia, cresce a dificuldade de estudar e aproveitar horários noturnos para hobbies, após um longo dia de trabalho, o que limita tanto o desenvolvimento pessoal quanto comunitário.Além disso, a falta de ilumicação em vias públicas a noite podem gerar casos de violência.

Levando tudo isso em consideração o desenvolvimento de uma ideia simples, mudou a vida de milhares de pessoas ao redor do mundo.


A iniciativa:

Foto:  Gabriela Romeiro/ Believe.Earth

Em 2002, em Uberaba (MG), o mecânico Alfredo Moser, utilizou a criatividade de um jeito genial: lembrando de uma técnica que aprendeu enquanto trabalhava em Brasília, em meio a apagões constantes, ele decidiu testar uma ideia improvável: colocar uma garrafa PET cheia de água e algumas gotas de cloro no telhado. O resultado foi uma iluminação equivalente a até 60 watts. Dessa forma: simples, limpa e acessível. Sem patente, sem lucro, apenas o desejo de compartilhar uma solução que poderia transformar vidas.

Do outro lado do mundo, nas Filipinas, o arquiteto Illac Diaz descobriu a invenção brasileira e enxergou nela muito mais que uma curiosidade. Sua organização, a MyShelter Foundation, transformou a ideia em um movimento global, o Liter of Light, treinando comunidades para produzir suas próprias “lâmpadas solares de garrafa”. O projeto evoluiu para versões noturnas com LED e pequenas placas solares, mantendo o espírito de autonomia, baixo custo e tecnologia aberta. Em poucos anos, a iniciativa iluminou casas, vielas e escolas em mais de 20 países, tornando-se símbolo mundial de tecnologia social replicável.

Fonte: Design Indaba
A tecnologia do Liter of Light é, ao mesmo tempo, engenhosa e extremamente simples, um exemplo clássico de tecnologia social apropriada. A versão diurna, criada por Moser, utiliza princípios básicos de ótica, refração e transferência de luz. Dentro da garrafa PET, a água tratada com cloro funciona como um meio refrator: quando a luz solar incide sobre a superfície, ela é capturada, redirecionada e difundida de forma homogênea para dentro do ambiente. A garrafa age como um guia de luz improvisado, espalhando os fótons e aumentando a luminosidade interna. Instalado no telhado, esse sistema pode gerar de 40 a 60 watts de iluminação natural, sem eletricidade, apenas convertendo luz externa em iluminação difusa.

Pode parecer bobagem uma lâmpada diurna, mas a realidade é que muitas casas humildes não possuem um arquiteto planejando a entrada de luz e costumam ser escuras durante o dia. Iluminar o ambiente nesse horário significa poder estudar, além do cuidado com a saúde dos olhos das pessoas que vivem nela.

Fonte: The Guardian
A versão noturna, desenvolvida pela equipe de Illac Diaz nas Filipinas, acrescenta uma camada tecnológica baseada em microeletrônica de baixo consumo. Uma pequena placa fotovoltaica capta energia durante o dia e carrega uma bateria de lítio ou chumbo-ácido selada, garantindo segurança e durabilidade. À noite, um circuito elétrico simplificado alimenta um conjunto de LEDs de alta eficiência, acomodados na garrafa. Os LEDs são escolhidos por sua baixa corrente e alta luminosidade, otimizando o uso da bateria e garantindo autonomia de até 10 a 12 horas de iluminação contínua.

Outras versões de lâmpada foram criadas desde, então.

No Brasil, a solução voltou para casa com o Litro de Luz Brasil, atuando em favelas, quilombos, aldeias e comunidades ribeirinhas da Amazônia. Além da iluminação, o impacto humano é profundo: mulheres e jovens aprendem a montar os sistemas, reduzem gastos com energia, ampliam horas de estudo e se tornam multiplicadores locais. Cada garrafa instalada carrega a engenhosidade de Moser, a visão global de Diaz e a prova de que inovação poderosa não precisa ser cara e precisa ser compartilhada.

Vocês podem conhecer mais sobre essa iniciativa acessando:
Site Oficial da Liter of Light | Youtube Oficial da Liter of Light



Esse projeto atende os seguinte ODS:

Sugestão de leitura:
Lista de links

Alfredo Moser: o gênio da lâmpada engarrafada
Energy Access Has Improved, Yet International Financial Support Still Needed to Boost Progress and Address Disparities
The Guardian: The developing world faces a silent killer. Could a $1 solar light help?

Atualizado em 04 de dezembro de 2025

0 Comentários

Spotify